sábado, 26 de junho de 2010

recordando luiz pacheco , como se hoje fosse ontem.


Luiz Pacheco - Quer se goste dele ou não

O Luiz Pacheco fez oitenta anos há uns tempos e tal.
Meu Deus;como o tempo passa é a frase trivial que apetece dizer.

Vi o programa de aniversário na televisão que isto das topo geografias
limitam um bocado.
O que me apetecera seria talvez a visita (como no tempo do
Barro) Arrancar-lhe umas palavritas ,trazer-lhe outras; oferecer-lhe algumas
memórias com muita ironia lá dentro, algumas piscadelas de olho
cúmplices e bem ou mal dispostas.
Mas vi logo pelo filme que ao Pacheco não lhe apetecia a fala.
Ou apetecia, mas não havia tempo de acção.


O Luiz, goste-se dele ou não,tem uma virtude que faz dele o que
é , um ser com um toque diamantino de ser livre e espacial que traz as
coisas em que toca a tal diferença e o respeito para com a obra alheia.


Vivemos alguma coisita em conjunto.
Digo Conjunto porque gosto do som da palavra e porque também a ideia de
conjunto define muito do que ele foi como editor e autor.
Com o Pacheco nada se esquece ;ele traz-nos através da sua escrita a
memória de um tempo que muitos gostariam que não houvesse existido
mas que existiu e podemos também dizer ainda existe e não só na
memória de alguns.
Em conjunto dizia eu; fizemos alguma coisita juntos.
Rimos muito e bem.
Tão bom , porque a gargalhada ainda é a melhor maneira de se manter a
gente na vertical e afaga e apaga muitas desilusões.

Amámos muito.Os amigos que se atravessaram no caminho e nos trouxeram
também muito de riso e das tais ilusões.
Alguns já ficaram pelo caminho ; guarde-se deles a memória e o apreço
pelo que nos deram.

O nosso Pacheco--quer se goste dele ou não--é um tipo de amores.
E apesar das manápulas voadoras com que desanca aquilo que nos outros
lhe parece mal,tem dentro do olhar aqueles lampejos ternurentos que só
quem lhos conhece adivinha.

Fez anos o Luiz e eu fiquei a ver.
Os amigos ,a evocação do passado; algumas memórias onde o burlesco
azedo se misturava ao humor de uma vida recheada de tristezas e
alegrias onde a aventura foi sempre predominante.Uns fizeram-me rir
outros fizeram-me sorrir; alguns nem por isso.

O filme era bem bom.
Gostei de ver o Paulo.
Inteligente e digno.Capaz de dizer o que lhe ia na alma com uma
limpidez e uma pureza de estilo que me impressionaram.
Filho de peixe....


E gostei de me lembrar.No meio daquela luz a preto e branco quase que
vi todos os fantasmas luminosos de sorriso irónico e olhar piscante de
cumplicidades.
A Natália ,o Pignatelli, o Dácio,o mano Forte e todos os que mudaram de sítio.
Ah as memórias ; que bela maneira de se ir a gente despedindo.

Gostei daquela festa de anos televisiva.
Gostei de ver o Saramago, amigo de ontem e de sempre que não faltou apesar das provocações eternas com que o Pacheco o brindou ao longo dos anos, o nosso para sempre presidente Soares
que nunca na vida falhou a um amigo estivesse ele onde estivesse; gostei das histórias,das ironias flutuantes dos toques e dos arremeços.
Se o Pacheco teria sido homo? Se se teria dado a aventuras
marítimoeroticoeróico nocturnas?..

Sei lá!

Conheço o Pacheco vai para mais de quarenta anos.
Homens não dei por isso;algumas mulheres sim, vi que andavam com ele e nem sempre
rapariguinhas simples ou iletradas a quem ele terá ou não ensinado as
primeiras letras de um alfabeto qualquer.

Que tem a vidinha privada dos artistas que ver com a sua obra?
A velha pergunta de sempre sobre o ovo e a galinha.
Para mim o que contará sempre é a obra.
O que resulta da misturangada feliz ou infeliz a que na verdade se
resume a nossa vida.
Aquilo que fomos capazes de fazer com tudo isso .
O que fomos ou não
capazes de criar.

Quanto ao Pacheco ( que começou por dizer que havia sido editor e que
agora é um fantasma) devo dizer dele o seguinte:
Tem ainda dentro do olhar e para lá das lentes grossas onde sempre
escondeu o que ele diz ser a miopia, o mesmo lampejo de ternura
divertida de alguém que conhece da vidinha todos os segredos.

Se é um fantasma não sei.
Sei que está vivo como nunca e isso é que é bom.
Parabéns ao Luiz Pacheco então.
Por uma vida vivida com a coragem de se ser único e original.

Quer se goste dele ou não.

11 setembro 05



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