segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Cães de Louça em Castelo Branco


Há dias fui a Castelo Branco, minha cidade de nascença. Adoro Castelo Branco e tenho visto a cidade crescer de uma forma mais ou menos ordenada. Alguns espaços urbanos, criados nos últimos anos, apresentam uma qualidade arquitectónica e de ordenamento de território acima da média. Contudo, nem tudo são rosas. Desta vez, chamou-me a atenção o “artefacto” que vemos na imagem. Trata-se de uma escadaria que dá para lado nenhum. Ou melhor, termina numa espécie de jaula cujo interesse não se percebe. Perguntei o que era aquilo – que antes de mais é inestético e transfigura o antigo quartel em pleno centro da cidade. Disseram-me que era a “porta do céu” ou as “escadas do céu”. E, para que serve, para nada. Foi construído por alturas do “Polis”.
Portugal tem destas coisas, por um lado, deixa morrer tradições, culturas e agora até tira o pão à classe média-baixa. Mas não deixa de construir escadarias para sítio nenhum, na simples suposição de que se o povo não entender o que é aquilo, então é arte.
Cada vez mais acredito que Portugal é uma família destruturada onde já não há dinheiro para pagar a renda da casa ou abastecer o frigorífico, mas se continuam a comprar “cães de louça”, num claro equívoco de que se trata de um investimento em arte ou um acrescento estético que acabará por se reflectir na produtividade da família.
Construir escadas para o céu pode até ser uma boa ideia, mas deveria (pelo menos enquanto não nos sobrar dinheiro para fazer escadas para nos fazer descer à terra) ser feito com outro respeito pelos dinheiros públicos. Dinheiros que, neste caso, não resultam sequer – ou apenas – do descontrolo deslumbrado de um autarca, já que o Polis era um programa financiado apenas parcamente pelas Câmaras Municipais. É que 90% das verbas são asseguradas pelo Estado e pela União Europeia

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